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Haftará Devarim – Isaias 1:1-27

Shabat Chazon


A terceira das haftarot que antecedem Tishá beAv, durante o período de Bein haMitzraim, nomeia o shabat: Shabat Chazon, o Shabat Negro, o mais triste do ano. O shabat que antecede Lamentações, Eichá.

Isaías fala de uma Jerusalém entregue à idolatria, em que as classes altas se entregam à luxúria, sem perceber que, em seu redor, tudo caiu: Samária, o Reino do Norte, partes de Judá. Mas o povo age como se nada tivesse acontecido.


Hoje, percebo a dificuldade de reconhecer o mal que nos rodeia. Sabemos que há um perigo sem rosto, que assola tudo ao nosso redor: saúde, vidas e economia. Mas talvez, pela dificuldade em materializar este perigo, ou pelo cansaço de esperar que ele bata à porta, já não nos preocupamos mais. Saímos às ruas e ditamos um novo normal, mesmo sabendo que esta atitude pode nos derrubar.


Jerusalém era a cidade onde se acreditava residir a Shechiná, Presença Divina na Terra. Por sua santidade, todos achavam que Jerusalém jamais cairia. Mas, “porque o presente amado de Deus foi abusado, ele foi apreendido. Jerusalém claramente não era imune. A presença de Deus, a santidade de Deus, não era um talismã. Pelo contrário, era um chamado à justiça” explica a rabina Analia Bortz.


Lemos na haftará: “Não sinto prazer no sangue de touros, cordeiros ou cabras quando você vem buscar a Minha presença, quem lhes pediu isso?” O profeta questiona os sacrifícios e oferendas, feitos sem kavaná, feitos somente para cumprir uma obrigação vazia, ou para mostrar posses e status (muitas oferendas eram dadas de acordo com a capacidade econômica das pessoas).


Este questionamento do porquê fazemos oferendas e doações, porque rezamos ou participamos desta ou daquela kehilá, é essencial. A prática do tikun olam para fazer parte de um círculo social é cada vez mais claro. Entidades de ação social entram e saem “da moda”. Fazer parte desta ou daquela iniciativa mostra se você faz ou não parte do grupinho social do momento. Da mesma forma, há comunidades das quais ser membro mostra quem você é e o que você pode.


Então vem o profeta e questiona, em nome de Deus: E quem falou que é isto o que importa? Quem disse que, se no final o bem é feito, o motivo não tem importância?


O que realmente importa é fazer porque aquela ação te faz mais sentido do que outra, porque esta causa te diz mais do que outra, o propósito é a essência da ação. A kehilá da qual você participa precisa ser condizente com sua prática religiosa, com o que você realmente acredita, para que haja kavaná, intenção.


A prática somente faz sentido se for feita com a alma, com sentimento, com profundidade. “Tsion será redimida com mishpat (justiça) e seu povo arrependido pela tsedaká (retidão)” ou como explica o rabino Gunter Plaut: “O núcleo da obrigação de Israel é a justiça. Sem ela, os atos rituais contam ou pouco. Ser justo é um componente essencial do amor”.


Amor, alma, integridade, propósito, estão na essência da boa prática, do ato que faz a diferença. Precisamos desta boa prática neste nosso mundo cercado pelo perigo, pelo mal visível e invisível.

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