Vivendo no Brasil, e diante das discussões e absurdos ocorridos nos
últimos dias por conta de uma ilustração do beijo entre dois homens, é
impossível deixar de refletir sobre o amor. O amor foi censurado no Rio de
Janeiro, e gerou repercussões em todo o Brasil.
Uma cidade onde as pessoas acham bacana posar para fotos apontando
os dedos como se arma fossem, em que mulheres são objetificadas e
vendidas para consumo sexual em funks e seus clipes, o desenho de um
beijo causa revolta e ação do poder público.
Me questiono quando demos a permissão para que a violência fosse o
normal e corriqueiro, quando o amor passou a ser perigoso.
O texto bíblico é claro ao repetir diversas vezes que devemos amar o
estrangeiro, devemos amar o outro. Veahavta leReacha Camocha – ame
ao outro como a si mesmo. Amar e respeitar, amar e deixar amar. O amor
do outro não te fere, não te interfere.
Ao saber da morte de Ionatan, pranteia o rei David: “O teu amor por mim
me era mais maravilhoso do que o amor das mulheres”. O amor fluido,
que independe do gênero, está no texto bíblico. O amor carnal, físico,
humano, é maravilhosamente retratado no Cântico dos Cânticos: “Que ele
me beije com os beijos da sua boca, porque os seus amores são melhores
do que o vinho”.
Muitas águas rolaram, muito tempo passou, e o poeta Lulu Santos cantou:
“...E a gente vive junto
E a gente se dá bem
Não desejamos mal a quase ninguém
E a gente vai à luta
E conhece a dor
Consideramos justa toda forma de amor...”
Me incomoda profundamente a sensação de que estamos em um tempo
de ódio. Me desespera o futuro de uma humanidade que absorve com
normalidade a violência, que encontra respostas racionais para atos de
opressão e supressão de liberdades individuais, que vende a mulher como
objeto de consumo e que, ao mesmo tempo, entende que um beijo entre
dois homens deve ser reprimido.
O questionamento do dia é: De qual amor você sente falta? Por que o
amor do outro te incomoda?
Que possamos amar e ser amados livremente, como mandam nossos
corações. Precisamos abrir nossas mentes e corações para entender que o
normal é amar; que o beijo não fere; que o relacionamento amoroso
constrói.
Que nossa arma seja o beijo. Beijemos muito e em público!
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