Hoje cedo tive a reunião que mais gosto da semana, que é a revisão da
tradução do Chumash, que faço com minha amiga-irmã Karin. Trabalhar
com quem você gosta e admira é muito gostoso, e se o assunto te
interessa, é ainda melhor!
Hoje revimos a parashá Balak, e ficou marcado dentro do meu
pensamento de Elul a cena da mula de Balaam, que para de andar ao ver o
anjo no caminho, salvando assim a vida do vidente, mas este, sem saber o
que a mula via, bate nela. Ela então pergunta para ele: O que eu te fiz?
Você andou sobre mim o dia inteiro, por que você me bate? Então Balaam
entende que a mula o protegia, pois ele passa a enxergar o anjo.
Isto me fez pensar em quantas vezes agimos sem que os outros tenham
consciência, para proteger ou ajudar. Quantas vezes triangulamos
conversas para evitar brigas entre duas pessoas queridas. Quantas vezes
servimos de escudo para evitar confrontos desnecessários. Mais ainda,
quantas vezes outros fazem estas coisas por nós, e não nos damos conta?
Em Bereshit lemos que não é bom ao homem ficar sozinho, então Deus
cria “ezer kenegdo” uma ajudante “contra” ele. Acho tanto interessante a
ideia de que estar só não é bom para construir – no caso de Adam, um
mundo – e que a ajuda é de certa forma uma força contrária. Se
pensarmos bem, quando queremos pular muito alto, abaixamos para
tomar um impulso; os corredores utilizam uma base contra a qual aplicam
força na hora da largada. Construímos juntos quando, ao invés de
concordar e seguir a corrente, aplicamos uma força contrária que obriga a
uma ação mais eficiente, mais certeira.
O trabalho conjunto, a chavruta, a amizade verdadeira, se constroem
nestas bases: a ação que não busca reconhecimento, mas que protege e
resguarda e o impulso contrário que faz agir certeiramente. No entremeio,
nos equilibramos.
Olho para dentro e me pergunto quando e por quem fui escudo? Quando
e por quem fui “ezer kenegdo”? Quem foram meus escudos e ajudantes,
será que os reconheci e agradeci?
De pronto ficam os reconhecimentos e agradecimentos ao Paulo – amor e
companheiro com quem construo a vida; à Karin – amiga-irmã de todas as
horas; à Kelita – chavruta que o rabinato me deu de presente.
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