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Foto do escritorAndrea Kulikovsky

Elul 25

O pior é o medo que o medo dá. Uma das melhores frases que conheço,

dita pelo meu primo, quando era bem pequeno. Ele falava da história

Chapeuzinho Amarelo, do Chico Buarque, mas muitas vezes ela faz sentido

na minha vida.


Desde que virei mãe tenho medos que antes não me afetavam. Sinto

medos que me assombram profundamente e, às vezes, a realidade vem

me lembrar destes medos. Não estar para meus filhos, perdê-los na vida,

doenças, acidentes.


Lembro perfeitamente de que não tinha medo de voar, porque uma das

cenas mais vívidas na minha cabeça dos meus tempos de advogada é uma

volta do Rio de Janeiro em véspera de Rosh Hashaná, em que serviram

picolé no avião e havia muita turbulência. Tenta imaginar a cena! No

entanto, após ser mãe, voar passou a me dar pânico. Por bastante tempo

suportei viagens de avião com ajuda de “gotinhas”. Não sei dizer o que foi

que me deu paz na alma e curou o medo, mas após uma viagem que fiz

sozinha para Israel, este medo passou – como veio, foi.


Na segunda-feira um desconforto pesou em meu coração, despertado

pela história de mais um menino que desapareceu. Tenho um medo

angustiante de todas as noites em que meus filhos saem. Como dizia o

mesmo Chico da Chapeuzinho: “a cidade é uma estranha senhora que

hoje sorri e amanhã te devora”. Faz parte da juventude a falta de medo, a

certeza e o desprendimento. Faz parte de ser mãe a angústia de esperar

que eles voltem.


Meu medo de voar me paralisava, eu atrapalhava todos ao meu redor. No

entanto, meu medo por meus filhos não pode paralisá-los, é preciso

confiar na educação, no discernimento, e em Deus. O mundo é louco, o

ser humano imprevisível, mas temos filhos para que eles um dia possam

voar – e sempre é cedo demais!


Um pouco de medo também é salutar. É o medo que te protege, ele é o

conselheiro que te informa do perigo. Ser destemido é ainda mais

perigoso do que se deixar paralisar pelo medo.


Não basta rezar, não basta sentir, não basta temer. É preciso buscar uma

maneira de agir. Não podemos ter medo do medo, precisamos viver e

deixar viver; precisamos respirar fundo e curtir a história até o final.

Precisamos acreditar que podemos fazer uma história de final feliz.

Será que consigo olhar para meus medos, analisá-los e me dar conta de

quais medos me protegem e quais medos me paralisam? Mais ainda,

quais dos meus medos influenciam na vida daqueles que me rodeiam?


Faço das palavras do poeta minha prece:


Que a força do medo que tenho

Não me impeça de ver o que anseio;

Que a morte de tudo em que acredito

Não me tape os ouvidos e a boca;

Porque metade de mim é o que eu grito,

Mas a outra metade é silêncio.

E que a minha loucura seja perdoada

Porque metade de mim é amor

E a outra metade... também.


(Osvaldo Montenegro)

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