O pior é o medo que o medo dá. Uma das melhores frases que conheço,
dita pelo meu primo, quando era bem pequeno. Ele falava da história
Chapeuzinho Amarelo, do Chico Buarque, mas muitas vezes ela faz sentido
na minha vida.
Desde que virei mãe tenho medos que antes não me afetavam. Sinto
medos que me assombram profundamente e, às vezes, a realidade vem
me lembrar destes medos. Não estar para meus filhos, perdê-los na vida,
doenças, acidentes.
Lembro perfeitamente de que não tinha medo de voar, porque uma das
cenas mais vívidas na minha cabeça dos meus tempos de advogada é uma
volta do Rio de Janeiro em véspera de Rosh Hashaná, em que serviram
picolé no avião e havia muita turbulência. Tenta imaginar a cena! No
entanto, após ser mãe, voar passou a me dar pânico. Por bastante tempo
suportei viagens de avião com ajuda de “gotinhas”. Não sei dizer o que foi
que me deu paz na alma e curou o medo, mas após uma viagem que fiz
sozinha para Israel, este medo passou – como veio, foi.
Na segunda-feira um desconforto pesou em meu coração, despertado
pela história de mais um menino que desapareceu. Tenho um medo
angustiante de todas as noites em que meus filhos saem. Como dizia o
mesmo Chico da Chapeuzinho: “a cidade é uma estranha senhora que
hoje sorri e amanhã te devora”. Faz parte da juventude a falta de medo, a
certeza e o desprendimento. Faz parte de ser mãe a angústia de esperar
que eles voltem.
Meu medo de voar me paralisava, eu atrapalhava todos ao meu redor. No
entanto, meu medo por meus filhos não pode paralisá-los, é preciso
confiar na educação, no discernimento, e em Deus. O mundo é louco, o
ser humano imprevisível, mas temos filhos para que eles um dia possam
voar – e sempre é cedo demais!
Um pouco de medo também é salutar. É o medo que te protege, ele é o
conselheiro que te informa do perigo. Ser destemido é ainda mais
perigoso do que se deixar paralisar pelo medo.
Não basta rezar, não basta sentir, não basta temer. É preciso buscar uma
maneira de agir. Não podemos ter medo do medo, precisamos viver e
deixar viver; precisamos respirar fundo e curtir a história até o final.
Precisamos acreditar que podemos fazer uma história de final feliz.
Será que consigo olhar para meus medos, analisá-los e me dar conta de
quais medos me protegem e quais medos me paralisam? Mais ainda,
quais dos meus medos influenciam na vida daqueles que me rodeiam?
Faço das palavras do poeta minha prece:
Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio;
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca;
Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio.
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade... também.
(Osvaldo Montenegro)
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