Ontem à noite, na ausência de bons programas na TV de infinitos canais,
assisti Animal Planet. O programa era sobre um animal chamado Tuatara,
que só existe em algumas ilhas da Nova Zelândia. Uma espécie de
dinossauro, um fóssil vivo, porque não sofreu modificações significativas
desde o período Mesozoico. O foco do programa, além da ameaça de
sobrevivência da espécie, era a longevidade destes animais: eles podem
viver mais de 100 anos. Qual o segredo? Dentes fortes, um terceiro olho, e
lentidão.
O que o Tuatara tem a ver com Elul? Ele foi um disparador incrível para
minha reflexão. Fiquei pensando na lição que este animal nos traz, através
de suas características...
Dentes fortes, que ajudam a mastigar e engolir qualquer coisa, por mais
difícil que seja. Quantas vezes ficamos com situações e sentimentos
engasgados, sem a condição de “engolir” ou “digerir” o momento?
Terceiro olho, que os cientistas, na verdade, não entenderam ainda como
funciona. A ideia de ter um outro olhar, diferente do apresentado por
nossos dois olhos, a possibilidade de olhar a mesma situação por um outro
ângulo, é poderosíssima. É quase um repensar instantâneo. Deveríamos
ser capazes de olhar uma situação por ângulos diferentes, ter outras
perspectivas, gerar a capacidade de reacessar a situação e julgar mais
corretamente. Quantas ações e reações erradas não poderíamos evitar!
Por fim, lentidão. Como meu amigo Theo publicou hoje no Conteúdo
Judaico (conta do Insta que é necessário seguir!) “A pressa obriga o ser
humano a chegar em cada lugar um pouco antes do momento em que ele
realmente deveria estar lá e, assim, na maioria das vezes ele não está
realmente presente quando deveria estar”*. A gente corre para dar conta,
corre para fazer um milhão de coisas e, fazendo um milhão de coisas o
tempo todo, não estamos realmente em lugar nenhum. É preciso
desacelerar.
Talvez, acessando de maneiras diferentes os problemas com os quais nos
deparamos no caminho, consigamos desenvolver uma maneira melhor de
engolir e digerir mesmo as emoções mais duras; diminuindo o ritmo do
dia-a-dia, nem que seja um pouquinho, viveremos mais o agora,
independente de quanto tempo temos para habitar este planeta.
Quais foram as situações indigestas deste ano que passou? Quando eu
poderia ter mastigado um pouquinho mais para engolir? Quais situações
eu quero rever por outro ângulo e, talvez, consertar? Quantas vezes estive
sem realmente me entregar ao momento, às pessoas ao meu redor?
Quanto da Tuatara vou conseguir colocar em prática para o próximo ano?
* Sipurei Maassiót, Maasê beHahám vaTám
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