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Despedida

Nos momentos mais importantes da minha vida, escolhi uma música que eu cantei. Assim foi no meu casamento, nas cerimônias de Bar e Bat Mitsvá dos meus filhos, e assim importante para mim é este momento. (Tocando em frente)[i]


“Rabi Meir costumava dizer: Uma pessoa deve proclamar cem bênçãos todos os dias”[ii] Em outra passagem, o Talmud[iii] ensina: “É proibido obter benefícios deste mundo, que é propriedade de Deus, sem recitar uma bênção de antemão. E quem tira proveito deste mundo sem uma bênção, é como se fosse culpado de mau uso de um objeto consagrado.” Hoje é dia de contar bênçãos.


Eu cheguei na ARI no dia 01 de janeiro de 2021. Tudo era online ainda. Mas minha história com a ARI vinha de antes, de visitas esporádicas à família do meu marido aqui no Rio, cerimônias especiais, mas o mais importante, o momento em que eu passei a fazer realmente parte do movimento reformista. Foi aqui na ARI, no encontro mundial da WUPJ, que eu passei a ser parte integrante do movimento. Aqui eu vivi o judaísmo que me fazia sentido, e passei a lutar pela possibilidade de expansão da participação da mulher na vida judaica religiosa, por um judaísmo inserido na realidade em que vivemos, com princípios de igualdade, respeito ao outro, inclusão e cuidado com o mundo. Aqui na ARI descobri que sou uma judia reformista, antes mesmo de ter a honra de trabalhar nesta mesma bimá onde vi rabinas que hoje são minhas amigas, lerem a Torá e participarem do serviço religioso. Ani Modá!


Vários anos depois, fui chamada para trabalhar na ARI por um amigo querido, irmão que a vida e o judaísmo reformista me deram, que insistiu até eu aceitar esta rotina meio maluca de ter um pé em São Paulo e outro no Rio. Ainda bem que ele insistiu! Como foi bom este tempo aqui! Claro que tive meus contratempos, mas cada minuto foi um presente. Aqui eu liderei serviços pela primeira vez neste papel rabínico, que é muito diferente de quando fazemos este mesmo serviço como voluntários. Aqui aprendi diversas nuances do rabinato com as quais nunca havia tido contato. Meus primeiros passos como rabina foram dados nesta bimá, neste espaço sagrado físico e online. O carinho, paciência e ensinamentos de todos ao meu redor durante este tempo de aprendizado foram pequenos presentes que se transformaram em uma grande bênção. Ani Modá!


Na sucá da ARI, logo antes do shabbat, soube do AVC do meu pai, e foi então que eu aprendi como o carinho desta comunidade é infinito. Como agradecer as pessoas que estão tão atentas ao meu olhar, que já sabem se comunicar comigo sem palavras? Nos bastidores há delicadeza e dedicação por toda parte. Aqui, onde mais do que somente ensinar, mas perpetuar o judaísmo, é a meta, só tem amor. A humanidade que cerca este espaço sagrado ensina muito do que é a ARI e sua importância dentro da comunidade judaica. Com tantos atos de carinho de cada uma das pessoas que formam nossa kehilá, voluntários, profissionais, e membros da comunidade, a ARI conquistou um espaço no meu coração para sempre. Ani Modá!


O Talmud, no tratado Sanhedrin, ensina que “uma pessoa não fica com ciúmes de seu aluno”[iv]. Na verdade, um bom professor dá espaço e visibilidade para seus alunos, entendendo que a conquista do aluno é a conquista do professor. Com generosidade e cuidado, algumas pessoas foram me guiando para que eu conquistasse meu espaço com calma e cautela. A bimá da ARI não foi só um espaço sagrado, mas também um espaço seguro. Ani Modá!


Como a vida encontra a Torá, nesta semana lemos conjuntamente as parashiot Matot e Massê. Em ambas as porções, os israelitas estão prontos para entrar na Terra Prometida. Especialmente na Parashat Masê, o movimento dos israelitas desde o Êxodo é relembrado. Estamos nos aproximando da cena culminante em que os israelitas entram na terra que Deus prometeu a Avraham e seus descendentes. Amanhã de manhã encerramos o livro de Bamidbar (Números), e iniciamos Devarim: a prédica final de Moshé para seu povo.


Minha última mensagem a vocês é o agradecimento por toda esta jornada. Por serem minha primeira comunidade e estarem ao meu lado quando me foi dada a oportunidade de transformar o sonho em realidade. É o pedido de que vocês continuem envolvidos para a construção da ARI. A única comunidade reformista, sionista e igualitária do Brasil. Continuem fazendo dela um lugar cada vez mais inclusivo para mulheres, pessoas com deficiências, membros da comunidade LGBTQ+. Que a ARI continue sendo uma entidade que reconhece e preza sua história, mas que não tem medo de olhar para o futuro e abraçá-lo com todas as mudanças que ele traz. Força, Força, e continuem mutuamente se fortificando.


Chazak, Chazak, veNitchazek


“E assim chegar e partir

São só dois lados da mesma viagem

O trem que chega é o mesmo trem da partida

A hora do encontro é também despedida”[v]

Levo a ARI no meu coração.


Shabat Shalom


[i] Tocando em Frente, Almir Sater [ii] Menachot 43:b [iii] Brachot 35:a [iv] Sanhedrin 105b [v] Encontros e Despedidas, Milton Nascimento

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