“Soberano do Universo, eu sou Tua e meus sonhos são Teus. Sonhei um sonho e não sei o que é. Quer eu tenha sonhado um sonho comigo mesma, ou meus amigos tenham sonhado comigo, ou eu tenha sonhado com outros, se forem sonhos bons, confirme-os. Reforce-os, como os sonhos de Iosef [e Asenat]. Assim como você transformou a maldição de Balaam em uma bênção, transforme todos os meus sonhos em algo bom para mim. Você que é Majestosa nas alturas, que habita no poder, Você é paz e Seu nome é paz. Que seja Tua vontade conceder-nos a paz. Amém."
“Sonhos são visões, fantasia e exploração, vislumbres do passado e do futuro. Alguns sonhos precisam de interpretação, enquanto outros oferecem uma visão clara das nossas esperanças e aspirações. Sonhar é uma bênção maravilhosa. Mas nem todo mundo pode se dar ao luxo de prestar atenção aos sonhos.”, como ensina a rabina americana Debra Robins.
Há semanas que os sonhos estão presentes em nossas leituras da Torá. Iaacov sonha com os anjos subindo e descendo a escada, Iossef sonha com sua família e interpreta sonhos para outras pessoas. E a porção da Torá desta semana não é diferente, e já começa com o faraó sonhando, duas vezes. Então Iossef é chamado para interpretar os sonhos do faraó e sua vida muda. O faraó lhe dá uma esposa, Asenat, eles têm dois filhos: Efraim e Menashe, e ele consegue um cargo importante no governo do Egito.
Sete anos de fartura se passam, e quando o Egito é o único lugar onde se pode comprar comida, seus irmãos chegam para obter mantimentos para suas famílias. Eles não reconhecem José, mas ele não só os reconhece, mas também se lembra dos seus sonhos. Eles vêm, como previsto em seus sonhos, para se curvar diante dele.
Sonhar exige do sonhador três características: Primeiro, o sonhador deve lembrar-se dos seus sonhos. Em segundo lugar, os sonhadores devem interpretar os sonhos e, por vezes, pedir ajuda. Terceiro, os sonhadores agem de acordo com seus sonhos.
Eu e meus colegas de rabinato dedicamos inúmeras horas neste semestre estudando sonhos no Talmud. Há um capítulo inteiro no tratado de Brachot dedicado aos sonhos, sua interpretação e seus efeitos. Mas um ensinamento permaneceu com todos nós: “kol chalomot holchin achar hape” Todos os sonhos seguem a boca. Na visão dos nossos sábios, os sonhos são cartas, mensagens enviadas para nós, e quando os sonhos são interpretados é como ler a carta, dar-lhe um significado, e então esse significado será seguido.
Num conto rabínico, um midrash, somos informados de que a esposa de Iossef, Asenat, pede que seus filhos sejam levados para serem abençoados por Iaacov, dizendo: “Ouvi dizer que se alguém recebe uma bênção de uma pessoa justa, é como recebendo-o da Shechiná.” Ela quer que seus filhos, os sonhadores do futuro, tenham um relacionamento com seu Deus, saibam que não estão sozinhos no mundo.
Bênçãos são sonhos desejados para nós e para outras pessoas. Lembro-me de minha avó me abençoando quando eu era pequena. Antes de sairmos da casa dela, depois do almoço de domingo, ela abençoava cada um dos netos. Na tradição judaica, os pais abençoam os seus filhos na noite de Shabat. Tradicionalmente, as meninas são abençoadas por serem como Sarah, Rebecca, Rachel e Leah; os meninos são abençoados por serem como Efraim e Menashe, os filhos de José que lhe nasceram no início da Parashat Miketz.
Mas por que abençoar nossos filhos para que sejam como dois personagens sobre os quais quase nada se diz? A rabina Sylvia Rothchild explica que “Efraim e Menashe cresceram no Egito. A mãe deles, Asenat, era egípcia. Na imaginação bíblica, o Egito é o local prototípico da Diáspora. Mas apesar da sua infância e educação na Diáspora, Efraim e Menashe mantiveram-se firmes na sua identidade religiosa minoritária e, portanto, abençoamos os nossos filhos para serem como eles, na esperança de que eles também se apeguem ao seu judaísmo, apesar das muitas pressões da vida na Diáspora.” Na esperança de que tenham uma vida judaica protegida e significativa, não importa onde vivam.
Outra explicação tradicional, lembrada esta semana por Rachel Goldberg, mãe de Hersh, sequestrado pelo Hamas no dia 7 de outubro, é que Ephraim e Menashe são os dois primeiros irmãos da Torá que não brigam entre si. Nem mesmo quando o avô cruza os braços durante a bênção aos meninos, dando a cada um a bênção do outro. Eles são abençoados e partem felizes, fraternos, juntos. Este é o maior sonho: querer que os nossos filhos possam seguir um caminho de paz e compreensão. Esperando que nossos filhos possam encontrar amor e companheirismo onde quer que estejam.
“Im tirtzu, ein zo agada” esta é uma das frases mais famosas de Herzel: “se você quiser, não é um sonho”. A realidade começa com os sonhos que sonhamos quando dormimos e quando estamos acordados, a realidade pode começar com a expressão de uma bênção para nossos filhos viverem uma vida judaica significativa e protegida, encontrando amor onde quer que vão.
A liturgista feminista Marcia Falk mudou a bênção tradicional que deseja que nossos filhos sejam como as matriarcas ou os filhos de José. O desejo dela é que os filhos sejam o melhor que são, em todas as possibilidades que têm de ser quem são, e esse é mais um sonho.
“Soberano do Universo, eu sou Tua e meus sonhos são Teus. Eu sonhei um sonho. Um sonho onde os judeus estivessem a salvo de todos os Mitzraims, livres para serem eles mesmos em todo o mundo. Sonhei com irmãos e irmãs amando e protegendo uns aos outros, trazendo os filhos de volta para os braços das mães. Sonhei um sonho com dias de bênçãos, proteção e amor. Shechiná, Mãe de todos os seres, reforce meu sonho, como os sonhos de Iossef e Asenat. Assim como você transformou a maldição de Balaam em uma bênção, transforme todos os sonhos ruins em algo bom, em bênçãos. Você que é Majestosa nas alturas, que habita no poder, Você é paz e Seu nome é paz. Que seja Tua vontade conceder-nos a paz. Amém
Os sonhos seguem a boca, por isso devemos continuar sonhando, e devemos continuar sonhando até que nossos sonhos se tornem realidade.
Shabat Shalom.
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