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Foto do escritorAndrea Kulikovsky

Behaalotechá

אל נא רפא נא לה “El ná refá ná lá” “Oh Deus, cure ela!” é o pranto de Moshé ao ver sua irmã Miriam coberta por escamas brancas. A primeira tfilá de cura que temos notícia é um pranto, um apelo por uma pessoa amada. Ao ser separada do acampamento de Israel para que se cure, o povo espera por Miriam, em uma simbologia de respeito e admiração. Aprendemos que a doença causa dor naqueles que estão à nossa volta, que o tempo para, e que às vezes só nos resta buscar apoio no apelo da alma e esperar. Mas por que Miriam é afligida por tsaraat? A história tem início na crítica feita por Miriam e Aharon a respeito da mulher cushita com a qual Moshé está casado, seguida pelo questionamento acerca de sua liderança. Moshé não se sente atingido pelos questionamentos dos irmãos, ele é descrito como um homem humilde, não ligado ao seu papel de comando. Mas Deus toma as dores de Moshé e pune Miriam; não Aharon. Teria sido Miriam punida por ser uma mulher questionando a autoridade de um homem, e requerendo para si este papel de liderança? Teria sido Miriam punida por ter iniciado uma fala de preconceito acerca da mulher de Moshé? É importante entender a centralidade do feminino no final desta parashá e, a partir desta centralidade, pensar em todas as informações e questionamentos que podem surgir deste trecho tão rico e vago ao mesmo tempo. A mulher cushita, negra e diferente do restante do povo, gera o estranhamento para os irmãos de Moshé. Como enxergar, entender e absorver o diferente deve ser o primeiro questionamento a nos fazermos enquanto comunidade. Receber, acolher e criar espaços para todos de maneira igual deve ser o maior objetivo de uma comunidade moderna. Por outro lado, rechaçar a ideia de que a mulher é mais tendente à fofoca do que o homem é de suma importância ao comentarmos este texto (nossos rabinos não tiveram este cuidado – pelo contrário). Entender que a liderança tem mais de um nível, que nem sempre o primeiro nível de liderança é aquele que cabe melhor ao nosso perfil, mas que a importância de todos é sensível ao grupo liderado: é o povo que decide ficar à espera de Miriam; sua ausência é sentida e sofrida por seus irmãos. Entender que às vezes aquele que não sofre diretamente a punição entende que deveria ter sido punido de igual forma, como percebemos na atitude de Aharon ao intervir por sua irmã junto a Moshé. Entender que todos podem e devem, de maneira igualitária, questionar atitudes de suas lideranças, mas de maneira adequada, para uma construção conjunta. Por fim, perceber que a doença gera afastamento do afligido, dor para seus entes amados, muito questionamento, e que nunca é justa. Devemos nos permitir sentir, sofrer, pedir. Buscar a força onde ela estiver disponível, gerar espaços de fortalecimento para aqueles que necessitam e, principalmente, entender que o tempo e o espaço funcionam de maneira diferente nestes momentos. אל נא רפא נא לה “El ná refá ná lá” – que possamos pedir; que saibamos escutar.

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