Passei a semana focada no estudo de tfilá. Parece que os assuntos vêm em ondas... Ontem dei uma aula para o grupo de BM (Bat e Bar Mitsvá) da ARI sobre o assunto, hoje de manhã temos o shacharit educativo – Lernen de Shabat – de forma que, passei a semana estudando. Por coincidência ou não, é na parashá Behaalotchá que aparece o primeiro pedido em forma de prece: “El na refa na la” por favor, meu Deus, cure-a! É o pedido de Moisés a Deus, ao ver sua irmã doente, com tsará, afastada do acampamento.
É também nesta parashá que ouvimos as últimas palavras de Miriam, quando ela, junto com Aharon, questiona o casamento de Moisés com uma cushita, e seu papel de profeta e líder do povo. Uma passagem estranha, que suscita muitas dúvidas, muitos questionamentos, em especial, para as mulheres, por que somente Miriam é punida? Por que Aharon sempre se livra de seus erros?
Sabemos que Miriam era uma profetisa, a própria Torá nos conta, mas não ouvimos sequer uma vez, no texto bíblico algum testemunho de suas professias. A rabina Ruth H. Sohn sugere que “Talvez em sua própria época, Miriam fosse uma profetisa e líder, e foram as gerações posteriores que, ao recontar as histórias, silenciaram Miriam e praticamente a baniram do texto. O destino de Miriam na Torá como um todo: uma mulher que chegou ao poder que teve seu poder postumamente negado e silenciada.” Não terá sido a primeira nem a última vez que isto acontece. A história se repetiu com a rabina Regina Jonas, morta em Teresinstat, suas palavras foram escondidas nas paredes dos campos onde ela pregou.
“El na refa na la” Por favor, Deus, cure-a! A primeira prece registrada de nossa tradição pode ser vista, talvez, não somente como um pedido para que a doença se vá, para que a alma se recupere. Os israelitas decidiram esperar por Miriam, ficaram parados durante sete dias aguardando sua líder. Talvez a prece seja para que sua voz seja recuperada, para que sua liderança seja lembrada, para que seu papel não seja esquecido.
“Miriam da Torá e do Midrash nos convida a sermos profetas, a falar do fundo de nossas próprias visões e sonhos. Ela nos convida a sermos defensoras de nossas irmãs e a sermos diretas em nossa defesa, e não nos desviarmos simplesmente de divulgar nossas queixas a outras partes. A figura de Miriam clama às mulheres de hoje para apresentarem sua voz na poesia, midrash, dança e música.” Conclama a rabina Sohn[i].
“El na refa na la” que sejamos prece, que sejamos voz e cura uma para as outras, para que não tenhamos mais nossas vozes silenciadas, para que nunca mais sejamos afastadas do acampamento do povo de Israel.
Shabat Shalom!
[i]Rabbi Elyse Goldstein. The Women's Torah Commentary . Turner Publishing Company. Kindle Edition.
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