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Foto do escritorAndrea Kulikovsky

Balak - Bamidbar 22:2-25:9

Atualizado: 3 de jul. de 2021

Certamente uma das histórias mais conhecidas da Torá, a parashat Balak fala do profeta não israelita Balaam, contratado pelo rei Balak para amaldiçoar os israelitas que estão se aproximando de Moab. Apesar de Balak avisar que o que Deus abençoou o humano não tem condição de amaldiçoar, Balaam vai ao encontro de Balak e, o que teria sido uma maldição se torna uma bênção para os israelitas. No meio desta narrativa, encontramos o estranho relato de Balaam e sua mula, a caminho de Moab, em que a mula não somente enxerga um anjo que Balaam, o profeta, não vê, mas também a mula, para surpresa de todos, levanta sua voz e fala em defesa própria contra Balaam e seus abusos físicos para com ela.


A rabina Diane Aronson Cohen chama atenção para o fato de que entre os diversos comentários tradicionais não encontramos fontes que falem deste abuso de Balaam para com sua mula. Ele bate 3 vezes nela, quando ela tenta evitar o anjo de Deus, defendendo seu mestre!


Nas palavras dela: “Comentaristas não veem o abuso, a liberação de raiva ou frustração em um indivíduo, humano ou animal, que fez parte de sua vida. A jumenta vê algo que seu mestre não pode, um anjo de Deus bloqueando o caminho, espada na mão, e a jumenta para protegendo seu mestre - e é espancada por isso. Como ela para o abuso? Ela fala. Ela nem se preocupa em explicar por que parou no meio do caminho e esmagou o pé de seu mestre contra a parede. As explicações não são importantes. Quer o comportamento dela seja apropriado ou não, o abuso não foi. [...] a jumenta nunca conta a Bil'am sobre o anjo. É preciso que Deus "descubra" os olhos de Bil'am para que ele veja o que estava incomodando seu animal. O diálogo entre Bil'am e o burro se concentra apenas no abuso e na recusa dela em aceitá-lo.”[i]


Há aqui uma mensagem potente de empoderamento que não deve ser ignorado nos dias de hoje. Quando em uma situação de opressão, precisamos buscar a força necessária para que tenhamos voz – por menos possível que ela possa nos parecer – e com esta voz, apontar o abuso, parar o comportamento que nos oprime.


Também chama atenção o fato de que um profeta de outro povo seja relatado no texto bíblico como alguém que fala com Deus, o Deus de Israel, para abençoar ou amaldiçoar. Que este profeta tenha a intimidade com Deus que é mostrada na Torá. Talvez aqui resida a mensagem anti-profética de que qualquer um que esteja disposto a ouvir o chamado divino é capaz de fazê-lo. Se Balaam, personagem tão controverso, pode falar com Deus, talvez nós também possamos.


Como explica a Dra Carol Ochs: “A profecia tem uma longa história religiosa, desde as tentativas de muitas religiões pagãs de ler as entranhas de animais sacrificados até as previsões ao longo dos tempos de que o fim dos dias chegará em um determinado dia. Como judeus, somos desafiados a encontrar o significado mais profundo de nossos estimados profetas. Eles não são importantes porque previram que o Templo seria destruído, mas porque nos lembram de nossa identidade mais profunda e chamado mais verdadeiro. Religião não é prognóstico, mas transformação. [...] Aprendemos a lição de que não devemos examinar a linhagem de um profeta, seja ele um chefe pagão, um animal de quatro patas ou folhas de chá rodopiantes. Precisamos apenas examinar nossos próprios corações e ver se eles estão despertos e animados em nossa busca por Deus.”


Nosso poder profético está em parar o mal, buscando nossa voz e nossas ações para mudar comportamentos abusivos, imorais, antiéticos. A possibilidade de abençoar ou amaldiçoar está em nossas mãos, em nossos lábios.


Que possamos manter nossos olhos abertos para as injustiças. Que nossos ouvidos possam captar a palavra Divina. Que nossos atos sejam para proteção, e não para agressão. E que nossas bocas possam sempre proferir palavras de bênção.


Shabat Shalom!

[i] Rabbi Elyse Goldstein. The Women's Torah Commentary . Turner Publishing Company.

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