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Até os 120!

Vezot haBracha

Devarim 33:1-34:12


A última parashá da Torá contém belezas poéticas para além do seu texto, que em si é poesia pura. Esta é a despedida de Moshé. Depois de um livro inteiro da Torá com textos carregados de rancor e tristeza, o inigualável profeta, líder insuperável, guia da liberdade, abençoa seu povo com carinho. A bênção é seguida de uma cena linda em que Moshé sobe a montanha, Deus mostra a Terra Prometida, Moshé morre e Deus o enterra em um local desconhecido.


“Então Moisés, o servo de Deus, morreu lá, na terra de Moav, a comando do Eterno. [Deus] o enterrou no vale da terra de Moav, próximo a Beit-Peor; e ninguém conhece o lugar de seu enterro até os dias de hoje. Moisés tinha 120 anos de idade quando morreu; seus olhos não estavam obscurecidos nem seu vigor havia diminuído. E os israelitas choraram por Moisés nas estepes de Moav por 30 dias.”


É desta linda passagem que vem a tradição de desejarmos a uma pessoa que viva até os 120 anos. Não pelo número em si, mas como uma metáfora de uma vida longa, produtiva, com propósito, e um final digno: sem dor, doença ou diminuição de qualidade de vida.


A acadêmica Dr. Gili Kugler explica: “Em contraste com estes, a narrativa principal do Deuteronômio atribuiu a Moisés a experiência da morte como comum a todos os mortais. Ele morreu em idade avançada, não sendo mais capaz (ou autorizado) de ser ativo, embora estivesse tão revigorado quanto um jovem. Sua missão termina no clímax de sua vida, encerrando o período de peregrinação pelo deserto.”


Esta semana me enviaram um texto publicado no jornal Folha de São Paulo que estranhamente fala sobre desejar a alguém que viva até os 120 anos sem mencionar sua origem textual. A crônica questiona a vontade de viver até os 120 como um número exato e não uma metáfora, e chega à conclusão de que só vale chegar aos 120 anos pelos motivos certos:


Há várias formas de vida ativa que não se esgotam durante as canseiras da profissão. A força que temos na velhice é suficiente para o que a velhice pede de nós. Há vários tipos de prazeres à disposição de uma mente mais curiosa.” João Pereira Coutinho


A velhice traz transformação, ressignificação, outro olhar para os dias. Ao longo da Torá percebemos as mudanças em na personalidade de Moshé, na forma de trabalhar e se relacionar com os outros. Estes são sinais de amadurecimento de Moshé. Quando é chegada a hora de se despedir, há um líder em linha, treinado para o papel que irá desempenhar, sob a tutela do próprio Moshé – preparar as gerações futuras faz parte do amadurecer e envelhecer. No entanto, a bênção de Moshé é justamente ter sua visão e vigor intactos até o final de seus dias, ter uma partida pacífica, ter um povo que chorou sua ausência, e ter deixado um legado que nos guia como povo até os dias de hoje.


Então, quando desejarmos que alguém viva até os 120, que seja por um número simbólico, com desejos de uma vida plena, significativa, tão bem vivida que gere um legado que se perpetue por gerações.


Shabat Shalom!

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