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AMIA - 27 anos - #Presente

O Talmud afirma que Deus decretou um dia de desgraça e infortúnio no início da história judaica. De acordo com essa interpretação, o nono dia do mês de Av foi o dia em que os judeus, no deserto do Sinai, lamentaram sua sorte quando os espias trouxeram más notícias de Canaã. Portanto, Deus declarou: “Você chorou sem causa; Vou, então, fazer deste um dia eterno de luto para vocês.” E foi então que o decreto foi ordenado para a destruição do Templo e a dispersão dos judeus entre os povos da terra.[i] É tradicionalmente atribuído a este dia a quebra das Tábuas da Lei por Moshé, a expulsão dos judeus da Espanha, a expulsão dos judeus das cidades fronteiriças da Rússia, e tantas outras catástrofes relativas à Segunda Guerra Mundial.


Dia 17 de julho de 1994, lembrado por muitos como o dia da final da Copa do Mundo nos EUA, quando o Brasil ganhou seu quarto título mundial, foi Tishá beAv.


Na segunda-feira 18 de julho de 1994 às 9h53m da manhã, a vida judaica em Buenos Aires mudou. Neste momento explodiu um carro bomba na sede da AMIA, instituição central da comunidade Argentina que, naquele ano, comemorava seu centenário. 85 pessoas foram mortas, mais de 300 ficaram feridas. A partir deste momento, fomos marcados pela tragédia cercana, não somente em termos de tempo, mas também de local. Marcamos o momento em que a América Latina passou a ser um possível alvo de ataques terroristas, um medo que antes não conhecíamos.


No Brasil sentimos as mudanças que o fato nos trouxe. Floreiras de concreto na frente das instituições judaicas, portões duplos de ferro, seguranças e medo, em locais que antes eram abertos e receptivos. Imigrações de judeus argentinos fugindo da insegurança em seu país de origem.


O shabat de hoje, que antecede Tishá beAv, é chamado Shabat Chazon, o shabat da visão, em que lemos a previsão do profeta Isaías de que Jerusalém cairia. A descrição, bastante desesperadora, inclui as frases: “Cada cabeça está doente, e cada coração está doente. A tua terra está devastada, as tuas cidades estão queimadas”[ii]. Imagens de desespero e destruição, que depois serão intensificadas com a leitura de Eichá, Lamentações, em Tishá beAv.


Tristemente, quando se ouve os depoimentos dos sobreviventes ao atentado da AMIA, na exposição virtual “Esse dia”[iii] as descrições de imagens, chamados e dores são idênticos. A correlação é imediata.


Em seu comentário semanal à haftará, a acadêmica Bex Stern Rosemblatt fala de Jerusalém em Lamentações: “Lemos primeiro sua grandeza e seu status que surgiu de nós, de ela estar cheia de gente. E então encontramos a linha mais gelada, encontramos Jerusalém como "como uma viúva". Ela perdeu seu povo e talvez seu Deus. Nós, chamados a proteger os direitos da viúva em Isaías, estamos ausentes em Lamentações, incapazes de oferecer a Jerusalém o sustento de que ela precisa.”


Novamente penso no paralelo com o desastre da AMIA: A comunidade, que um dia foi vibrante e potente, sofre uma perda irreparável, da qual nunca se recuperou, e para a qual nunca obteve a devida resposta do poder público. Nós, comunidade judaica do mundo, nos vemos impossibilitados de dar aos nossos irmãos argentinos o amparo que eles necessitam.


Histórias interrompidas, vidas afetadas, uma comunidade alterada pela tragédia, a região inteira se une ao luto e à luta da comunidade argentina em Tishá beAv e nos dias que antecedem. Na Argentina, como em todos os anos desde 18 de julho de 1994, as sirenes da cidade soam às 09h53 para recordar o momento da explosão que matou 85 pessoas e deixou cerca de 300 feridos. Hoje, 27 anos após o atentado, ninguém foi punido e a comunidade judaica da Argentina continua pedindo Justiça.


Como nos clama o profeta Isaías no texto que leremos amanhã de manhã na sinagoga: “Aprendam a fazer o bem. Dediquem-se à justiça; ajudem os injustiçados.”[iv] Estejamos conectados contra a impunidade, lutemos juntos pela justiça.


AMIA 27 anos – Presente.


[i] Schauss, Hayyim. The Jewish Festivals. Knopf Doubleday Publishing Group. [ii] Isaias 1:5-7 [iii] http://esedia.amia.org.ar/ [iv] Isaías 1:17

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