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Foto do escritorAndrea Kulikovsky

Acharei Mot / Kedoshim - Vaicrá 16:1-20:27


Hareini mekabel alai et mitzvat ha'Borei, ve’ahavta le'rei-acha kamocha, le'rei-acha kamocha.


Aqui estou eu, e assumo o compromisso do Criador - Ame o seu próximo como a você mesmo, o seu próximo como a você mesmo.


Duas parashot cheias de detalhes e cheias de conceitos profundos. Começamos com a limpeza e purificação dos sacerdotes, e sua preparação para a cerimônia anual de expiação dos pecados da comunidade. Conhecemos o bode expiatório. Passamos para uma série de regras comportamentais e sexuais, e passamos então para Kedoshin, onde algumas destas regras são repetidas, ou refraseadas; e novas regras, com um cunho mais social, de cuidado com o outro são inseridas. Juntas ou separadas, as parashot não são fáceis, mas apresentam em si a resposta para sua dificuldade.


A estudante rabínica e ativista LGBTQ+ Emily Volz publicou esta semana no Times of Israel[i]: “Acredito firmemente que revestir em açúcar em algo doloroso não ajuda ninguém. (...) fingir que este versículo [Levítico 18:22] diz algo que não diz apaga qualquer espaço para que pessoas queer debatam de forma significativa como fazer parte de uma tradição que é limitada por um texto que nos fala de forma depreciativa. Não só não permite que as pessoas queer que foram magoadas por este versículo sejam apoiadas, mas também presta um desserviço a todos em nossa comunidade, independentemente da sexualidade. Com essa interpretação desdenhosa, abandonamos nossa capacidade de participar de um esquema judaico para enfrentar o desconforto e a dissonância... A Torá pode machucar, pode fraturar, pode ferir como uma faca. A Torá é um texto vivo e os seres vivos ferem outros seres vivos.”


Com este comentário, somos chamados a ler o texto em sua literalidade, entender o que ele está dizendo, sentir e às vezes sofrer com ele. Precisamos entender o contexto histórico no qual foi apresentado, e então trazermos para o nosso tempo, para a nossa moral, para o nosso conhecimento e vida atual. Esta não é uma novidade imposta pelos reformistas; está na Torá e em diversos comentários posteriores, como por exemplo, na explicação de Ramban[ii] (Nachmânides – sábio catalão do século XII), que explica que devemos seguir as indicações dos estudiosos, mesmo que pareçam erradas, pois esta é uma lei Divina.


Se trouxermos para nossa interpretação outros trechos desta mesma parashá, somos convidados a repensar a exclusão de qualquer um em nossa comunidade: mulheres, gays, “jews of color”, e tantos outros... Você deve amar o estrangeiro, pois nós fomos estrangeiros no Egito, diz o versículo 19:34; você deve deixar parte de sua colheita para o pobre, o estrangeiro, a viúva e o órfão; você deve amar o próximo como a si mesmo.


Acharei Mot e Kedoshin é um convite para vivermos[iii] o judaísmo, para reconhecermos o diferente entre nós e tratarmos com dignidade e pertencimento, para cuidarmos dos fragilizados. Para construirmos uma comunidade composta pela diversidade e pelo que há de mais sagrado em cada um de nós.


Como escreveu a rabina Dvora Weisenberg[iv]: “Cada um de nós tem capacidade para a santidade. Mas ninguém pode alcançar a kedushá que espelha a santidade de Deus. Quando nos vemos como membros do povo de Israel, de um povo chamado para ser santo, nos livramos do fardo insuportável de alcançar a perfeição como indivíduos. Cada um de nós pode escolher as mitsvót que nos permitem expressar nosso ser judeu único, sabendo que, por meio de nossas vidas judaicas individuais, estamos contribuindo para o todo judaico. Am Yisrael é sagrado não porque cada um de nós sustenta em todos os momentos a expressão mais elevada do Judaísmo, mas porque cada um de nós traz para a comunidade uma centelha de santidade.”


Somos sagrados porque somos feitos à imagem e semelhança divina. Esta similaridade reside no fato de podermos estudar, entender, raciocinar, distinguir o certo do errado e tomar decisões baseadas nos ensinamentos divinos, para a construção de um mundo melhor. Um mundo melhor é construído para reconhecer e acolher o amor, para abrigar a diversidade que torna cada um de nós uma pequena faísca da grande Chama que nos criou. Um mundo melhor é construído em comunidade.


ואהבתה לרעך כמוך

Veahavta lereacha Camocha

Ame seu próximo como a ti mesmo. Sejamos kedoshim.




[i] https://blogs.timesofisrael.com/when-torah-hurts-parashat-acharei-mot-kedoshim [ii] https://www.sefaria.org/Deuteronomy.17.11?lang=bi&with=Ramban&lang2=en [iii] וּשְׁמַרְתֶּ֤ם אֶת־חֻקֹּתַי֙ וְאֶת־מִשְׁפָּטַ֔י אֲשֶׁ֨ר יַעֲשֶׂ֥ה אֹתָ֛ם הָאָדָ֖ם וָחַ֣י בָּהֶ֑ם אֲנִ֖י יְהוָֽה׃ (ס) You shall keep My laws and My rules, by the pursuit of which man shall live: I am the LORD. [iv] https://reformjudaism.org/learning/torah-study/torah-commentary/what-makes-us-holy

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